PROPOSTA DE REDAÇÃO UFG
HÁ PADRÕES PARA SER FELIZ?
Coletânea
Felicidade não tem preço
Eu sonhei com um pote de ouro/ Meu lindo tesouro/ Pobreza nunca mais/ Sonho de menino, virei um grã-fino!
De quina pra Lua estou em cartaz/ O jogo da vida aprendi a ganhar/ Adeus pindaíba, chega de chorar!
Oh! Felicidade me diz o teu preço/ Eu sei que mereço e posso pagar Bem-me-quer meu bem querer!/ Vou comprar seu coração/ Tô pagando por um beijo/ Saciando meu
desejo no baú da ilusão Sou o dono do mundo/ Meu tempo é dinheiro, eu quero investir/ Nessa ciranda onde a grana fala alto
Lá no céu tô perdoado, já paguei sem refletir/ Mas a realidade da desigualdade/ Me faz despertar
Não quero essa falsa alegria/ Chega de hipocrisia, pois a vida é muito mais
A felicidade não tem preço/ Hoje reconheço que a riqueza se desfaz!
Eu quero é viver, a vida gozar!/ Saber ser feliz e aproveitar
Rocinha encanta e mostra a verdade/ Dinheiro não compra a felicidade
ACADÊMICOS DA ROCINHA. Samba enredo 1990. Disponível em: <www. musicas.mus.br/letras> Acesso em: 6 nov. 2006.
[...] Para Aristóteles, a causa final do homem, seu objetivo supremo é a felicidade. Ela não é um forte prazer que se esvai logo em seguida; ao contrário, deve ser algo perene e tranqüilo, sem excessos, pois o excesso faz com que uma boa ação torne-se seu oposto. Uma pessoa amável em demasia, por exemplo, não passa de um incômodo bajulador. Atingir a felicidade depende então de uma conduta moral moderada, sem excesso, baseada no que Aristóteles denomina “meio-termo”. Tal conduta deve ser forjada pelo hábito, de modo análogo ao atleta que se forma por repetidos exercícios. Habituar-se a uma boa conduta é ter bons costumes, e isso vale muito mais do que praticar uma série de ações isoladas. Tal hábito é adquirido, sobretudo, pelo exercício do intelecto, que no campo moral, aspira ao que é razoável. A felicidade, em suma, obtém-se por meio da vida contemplativa, uma vida intelectual sossegada, longe das perturbações do cotidiano. [...] Em o Sistema da Natureza, Paul Heinrich Thiry, barão de Holbach, defende teses materialistas: as matérias distinguem-se umas das outras por propriedades qualitativamente diferentes, e compõem todos os seres, cuja série ordenada é a natureza. Em tal série não há nenhuma causa final – mera superstição inventada por sacerdotes –, e se os homens buscam certos valores como fim é porque desejam o prazer e rejeitam a dor. Para Holbach, a religião, que impede a realização do prazer, é antinatural; o que importa é, contra isso, reorganizar e reformar a sociedade de tal maneira que cada um possa sentir prazer em desejar o bem estar dos outros.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA. São Paulo: Nova Cultural, 2004. p. 63 e 268. (Coleção Os Pensadores). [Adaptado].
Em respostas obtidas na pesquisa do Datafolha, 76% dizem-se felizes e 22% se dizem mais ou menos felizes, e comparando os números aos obtidos quando tinham de falar da felicidade dos outros, ficamos surpresos com a diferença. Só 28% dos entrevistados vêem felicidade na vida desses outros, e 55% os acham mais ou menos felizes. Pode parecer paradoxal, mas não é absurdo. Quando falo da minha felicidade, falo de esperança e futuro. Quando falo dos outros, idealizo menos.
MAUTNER, Ana Verônica. Felicidade vai-se embora. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 set. 2006, p. C1.
Os manuais de auto-ajuda são exemplos de tirania. De pequenas tiranias consumidas por escravos dóceis e fiéis que acreditam em dois equívocos. O primeiro é conhecido: não existe manual de autoajuda que não apresente o infortúnio como um elemento estranho à condição humana. A tristeza é uma anormalidade, dizem. O fracasso não existe e, quando existe, deve ser imediatamente apagado, ordenam. Na sapiência dos manuais, a infelicidade não é um fato; é uma vergonha e uma proibição. O que implica o seu inverso: se a infelicidade é uma proibição, a felicidade é obrigatória por natureza. Obrigatória e radicalmente individual. Ela não depende da sorte, da contingência e da ação de terceiros: daqueles que fazem, e tantas vezes desfazem, o que somos e não somos. Depende, exclusiva, e infantilmente, de nós.
COUTINHO, João Pereira. O direito à infelicidade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 ago. 2006, p. E2.
Daniel Gilbert, professor de psicologia da Universidade de Harvard, levanta uma bela questão: estamos apostando todas as nossas fichas em lugares errados na tentativa de sermos felizes. Fazemos planos de comprar uma casa, ter filhos, ganhar mais dinheiro, ser mais reconhecidos profissionalmente, uma série de outros projetos que, para ele, não serão necessariamente sinônimo de felicidade no futuro. Gilbert propõe o seguinte exercício: “Pense que você só tem mais 10 minutos de vida. O que faria com esse tempo?” [...] Imagine quais seriam suas respostas – segundo Gilbert, elas vão retratar exatamente tudo o que você dá valor hoje em dia. É de arrepiar.
SGARIONI, Marina. A tal felicidade. Emoção e inteligência. São Paulo: Abril. n. 9, 2006. p. 61. [Adaptado].
Proposta de redação
O artigo de opinião é um texto escrito para ser publicado em jornais e revistas e traz reflexões a respeito de um tema atual de interesse do grande público. Nesse gênero, o autor desenvolve um ponto de vista a respeito do tema com argumentos sustentados por informações e opiniões que se complementam ou se opõem. No texto, predominam seqüências expositivo-argumentativas.
Escreva um artigo de opinião para um jornal local, discutindo a necessidade e a imposição de um padrão de felicidade. Defenda seu ponto de vista, apresentando argumentos que o sustentem e que possam refutar outros pontos de vista.
Dê um título ao seu texto.
Escreva entre 25 e 35 linhas.